quinta-feira, 5 de maio de 2016

O mistério da Lagoinha do Largo do Caminho Verde


Ao longo do processo de planejamento e organização do Mutirão, fui conversando com muitas pessoas, entre elas, antigos moradores. Gente que vive aqui há 35 anos, há 20 anos e viu o bucólico lugar com ruas de terra serem asfaltadas; casarões serem demolidos, dando lugar a condomínios e a mais recente transformação - e a mais assustadora e invasiva - com casas sendo alugadas para grupos imensos sem nenhuma relação com o local (verdadeiros vândalos), casas de festas atormentando as noites dos finais de semana com som altíssimo, visitantes largando seu lixo espalhado, bêbados dirigindo em alta velocidade e se enfiando em muros e postes da vizinhança, automóveis ocupando as ruas e calçadas, impedindo até mesmo o ir e vir dos residentes.

A modernidade tem seu preço! Se hoje não padecemos tanto com falta de luz ou água (o que ainda acontece, mas em menor proporção que no passado), vimos tendo que lidar com acúmulo de lixo, entulho e automóveis por todos os lados, até na frente das garagens, ocasionando brigas e muito tumulto nos feriados e fins de semana.

Esses fatores são de certo modo responsáveis por este movimento que levou à ocupação pacífica do Largo do Caminho Verde.

Pretendendo mostrar que o local não é uma terra de ninguém, onde vale tudo e manda quem grita mais alto, visamos limpar, cercar e preservar a natureza naquele pequeno largo onde a vida silvestre existe e resiste. Nosso desejo não é urbanizar a praça. Ao contrário, é permitir que ele seja uma espécie de santuário para as criaturas que sempre viveram e continuam vivendo no local, enchendo nossos olhos de beleza e nossos corações de esperança de que é possível viver em harmonia com a natureza da qual somos parte, ainda que muitas vezes esqueçamos disso.

E assim veio à tona a história da lagoa do Caminho Verde.

Na verdade, toda esta área vivia sendo periodicamente alagada no passado, tanto pelas marés como pelas chuvas. Um brejo, um alagado. Com peixes, tartarugas, galinhas d'água, garças, caranguejos, guaiamus, rãs, cobras e outras criaturas. Com o loteamento, muitas áreas foram sendo aterradas. O Largo resistiu, mantendo sua lagoa de grande extensão, especialmente no período chuvoso. Nos últimos anos, o acúmulo de entulhos praticamente exterminou a lagoa.

Chegaram a dizer que uma boca de lobo estaria esgotando a água para o canal e que ela teria secado.

Uma moradora mais antiga foi comigo ao local onde estaria a entrada da boca de lobo. De fato, sob muito mato e um grande arbusto de Mangue (vegetação nativa característica dessas áreas litorâneas), encontramos vestígios de concreto.

Este assunto foi abordado com Rogéria Castro, do INEA, que levantou a hipótese desta manilha estar entupida, visto a existência do Mangue e de outras plantas características de brejos, conservando alguma água no local.

Um amigo, técnico da secretaria de obras que veio participar do mutirão, explicou a função da boca de lobo. Ao contrário do que pensávamos, ela  recolhe a água da chuva da via pública. A informação nos deixou bem animados. Enquanto uns recolhiam lixo e outros cavavam e plantavam as mudas, um grupo dedicou-se com afinco a descobrir a lagoa perdida.

As imagens captadas por Marcinha Ribeiro, revelam o mistério.


No início da manhã do Mutirão,  arbusto de Mangue ao longe, no meio do largo


Arbusto de Mangue

Arbusto de Mangue com terra e entulho sob sua copa


A Aroeira sendo podada e o Mangue ao fundo, aguardando seu momento de poda

Um grupo de concentra na limpeza do entorno do Mangue

Rogéria investe na enxada


Aos poucos o mato vai sendo retirado


Parece haver sinais de água...


As bordas da boca de lobo aparecem


O grupo começa a investir na parte de trás, retirando entulho, mato seco, folhas

Há mesmo água...

Os pés afundam...

Eis que aparece a ilustre moradora! Uma rã!! Que não deve ter entendido nada, quando todos gritaram e aplaudiram sua presença

Enquanto confabulamos sobre a existência da lagoa e de haver ou não comunicação com o canal...

...mourões são preparados para demarcar o local da lagoa.

Foi preciso um carrinho de mão para retirar o entulho



Ou mourões vão sendo transportados
A água surge depois de retirado o mato

Enquanto isso, Patrick vai buscar bromélias





Os tocos vão sendo fincados no chão


Nossa incansável guerreira não para um instante!




O interior da boca de lobo, de onde saem os troncos do Mangue

Começa o plantio das bromélias

Ficou lindo! Quantas mãos foram necessárias para se chegar a este resultado!

Valeu a pena!!

A água vai surgindo...

... e refletindo o céu azul!

Que beleza de cenário!
Gratidão, Marcinha Ribeiro, pelo seu belo e sensível trabalho de registro deste dia inesquecível!

4 comentários:

  1. Que belo trabalho e esse relato chega a emocionar. Parabéns a todos os envolvidos!!

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  2. Que belo trabalho e esse relato chega a emocionar. Parabéns a todos os envolvidos!!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Muito bom de verdade, bonito trabalho.

    Flavio Machado

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