quinta-feira, 15 de junho de 2017

Memória e História - Os bonecos gigantes da Brincareta






João Marciano, Chico Lima,  Vavadinho, Augustinho Mergulhão,
Veludo, Osvaldo Rodrigues, Tonga, Palhaço Chupêta, Zé Praxedes, Marilena Alves, Democra, Jô, Zé de Dome, Zé Barbosa, Otília, Chico Estevão, Mané Sapo, João Marciano, Chico Lima, Amena Mayal, Bebela , Zé de Quincas, Celinho, Eduardo Passos, Gandola, Scliar, Danilson, Curica, Dr. Sérgio, Márcio Correa, Volney, Ito do Violão, Dinarte, Chico Ribeiro, Nogueirinha, Torres do Cabo, Ercília

O que todas essas pessoas teriam em comum?

Todas viraram boneco da Brincareta!

Mas como alguém ganha esse status?

Com a palavra Tânia Arrabal, autora de todos os figurinos e quem, junto a uma equipe de artesãos, confeccionou os bonecões da Brincareta: 



Quem decide se um novo personagem irá integrar o cortejo é o prefeito da cidade. Todo ano a prefeitura recebe a lista de pedidos das famílias ou abaixo-assinados de moradores. Em Cabo Frio, se diz que a pessoa não morre, vira boneco. Parte do humor cabo-friense, a Brincareta sai nos quatro dias de carnaval, em ruas diferentes.
"A gente faz o boneco com a fotografia do desencarnado ao lado, de frente e de perfil", brinca Tânia. É que a regra da Brincareta é prestigiar os falecidos. "Às vezes, vem a família inteira para aprovar. E tem que ser idêntico, senão eles vão dizer que não 'tá a cara do pai'. Quando chega o dia do desfile, em vez de comemorar o carnaval, o parente chora", comenta Tânia, entre risos.
Cada bonecão, de três metros de altura, 80 cm de diâmetro e cerca de 15 quilos, consome 20 dias de trabalho. "Só nas roupas, vão mais de 200 metros de pano", observa ela. Eles ganham forma a partir da colagem de placas de isopor. "Depois de montado, lixo e passo goma. Aí vêm as camadas de papel amassado, massa corrida e tinta", resume a artesã. 
Autodidata, Tânia começou a costurar bonecos de pano por causa do filho. " Ele riscou todo o boneco de um amigo e eu tive que me virar pra fazer um novo. Me diverti e não parei", conta. A bonequeira também faz espetáculos solo de fantoches e contação de histórias. Mas Tânia se diverte mesmo é com a Brincareta e seu folclore.
fonte: http://mapadecultura.rj.gov.br/manchete/tania-arrabal#prettyPhoto
Tania junto a uma de suas criações, no carnaval de 2013

Artesãos e Bonequeiros da Bricareta

Clarêncio Rodrigues, José Facury Heluy, Tânia Arrabal, Moisés Senos, Marina Vergara, Ellen Mona, Josafá e Flavio Pettinichi 












José Facury conta como surgiu a ideia, 
em texto de sua autoria:
José Facury e Tânia Arrabal

Há quinze anos, um considerável grupo de artesãos e artistas cênicos de Cabo Frio, já vinham discutindo a valorização do artesanato bonequeiro no município, haja vista a projeção que o mesmo alcançou no âmbito do movimento teatral nacional, porém de pouco reconhecimento local, no que se fazia necessário um engajamento maior deste tipo de arte em eventos da cidade de conotações populares e turísticas.
O carnaval de Cabo Frio se apresentou como um notável receptador para acolher a demanda bonequeira, tendo como exemplo significativo, o carnaval de Olinda (Pernambuco), que atraia milhões de foliões em cordões de frevo puxados por bonecões evoluindo pelas ladeiras, cercadas de um riquíssimo acervo arquitetônico colonial. Logicamente que, em Cabo Frio, tem cenário para isso e o predomínio musical não seria o frevo, e sim o samba de enredo e/ou a marcha rancho.
A ideia inicial seria evoluir em um espaço mais bucólico e tradicional da cidade, onde já as bandas de marchas rancho desenvolviam também seus desfiles, desta feita com os bonecos homenageando ou satirizando pessoas da cidade. Os blocos de marchas rancho não necessitarão de alas, pois o mesmo já tem uma fluência própria.
O importante no desenvolvimento do circuito de desfiles é que o bloco, circule em rotatividade nos trajetos definidos, ocupando um espaço de mais ou menos  4 (quatro) horas. Convém salientar que o projeto não prevê para a sua concretização cordões de isolamento, arquibancadas e sonorização. O importante é deixar o cortejo fluir abertamente, buscando uma integração total de assistentes e foliões.
Finalmente, em 1999, o teatrólogo José Facury incentivado pelo Projeto Verão da Folha dos Lagos, apresenta formalmente a idéia que é imediatamente assumida pela Prefeitura de Cabo Frio, e hoje já é considerada uma força do Carnaval da Região. Pois com os seus bonecos gigantes sempre homenageando personalidades da área cultural da cidade, acaba seduzindo ao carnavalesco infantil e adulto por onde passa no circuito definido pelos organizadores.

HISTÓRICO

Dos Bonecos

A partir início do século XX, qualquer quermesse ou prática circense que aparecia por essas bandas, trazia como atração, um mamulengueiro, acompanhado de uma sanfona, sua empanada e seus fantoches para alegrar a gurizada local. Um desses brincantes, conforme nos conta Antônio de Gastão, na publicação da FUNARTE - O Artista Popular e o seu Meio, foi o nordestino sanfoneiro de nome Miguel Escuma, "ele vinha pra Cabo Frio e botava o festival desses bonecos em todas as festas juninas, foi com ele que aprendi a manejar os bonecos".
A partir daí a arte bonequeira floresceu na cidade, muitos manipulavam os bonecos do artista visitante. Um deles foi o Zé Barbosa, outro festeiro e brincante tradicional da cidade, que começou também a confeccioná-los. Zé Barbosa e Antônio de Gastão se tornaram os grandes bonequeiros de quase todas as festas da cidade: "era engraçado, porque quando a gente ia fazer um espetáculo fora, ia todo mundo atrás, tudo montado na carroça ou no caminhão", ressalta Zé Barbosa, em entrevista oral.
Os bonecos da dupla, feitos a principio em madeira e depois em isopor, tinham vida dramática e personalidades dentro do mais puro estilo mamulengueiro, eram eles: Chico Preto, Moleque Trinta e Um, Doutor Mamão, Padre, Palhaço Bicudo, Filomena, Soldado, Lamparina, João Redondo, Jararaca, Sabiá, Seu Belo e Sanhaço.
Seguindo a tradição, aparece o nordestino Chico Lima (Twist), que, tendo começado com os bonecos de luva, aprofundou-se no artesanato com espuma, onde até pouco tempo apresentava seus pockets shows em festas e eventos da cidade.
            Na mesma época desponta o mestre cabo-friense Clarêncio Rodrigues e seu grupo Sorriso Feliz, que seguindo a tradição familiar da arte bonequeira, especializa-se na confecção e na manipulação de uma das mais difíceis estruturas da arte títere: a marionete (bonecos de fios). A presença do bonequeiro e carnavalesco Marcilio Barroco no inicio da década de oitenta  em Cabo Frio, foi quem motivou uma maior instrumentalização e maior engajamento profissional, tanto para Chico Lima como para Clarêncio Rodrigues, tornando-os, inclusive afiliados à Associação Brasileira de Teatros de Bonecos (ABTB), que abriu-lhes espaço para mostrarem seus trabalhos pelo Brasil afora.
Devidamente capacitado na sua arte, Clarêncio Rodrigues, além de ter feito vários espetáculos, onde usou e abusou da técnica marioneteira, alcançou  enorme sucesso nacional com o espetáculo que conta a história de uma passista e um mestre sala da Escola de Samba  Império de Cabo Frio, Minha Favela Querida, que recebeu vários prêmios em festivais estaduais e nacionais. O espetáculo encontra-se vivo com os seus cinquenta bonecos até hoje.
Clarêncio Rodrigues, não se conteve em deter a arte só para si e os seus familiares, preocupou-se em repassar o seu saber para muitos jovens da cidade e do Estado, e principalmente para aqueles que com ele trabalharam diretamente como: Gabriel Bezerra, Carlos Eduardo Alves, hoje no programa Cocoricó da TV Cultura de São Paulo e Tânia Arrabal, do Grupo Teatral Creche na Coxia. Clarencio mantêm um espaço próprio para exposição e apresentações à Rua Jorge Lóssio.  
Cabo Frio, hoje conta com diversos artesãos da arte bonequeira, com domínio de várias técnicas como: luva, dedo (de papier e de látex), manipulação direta, de vara, marionetes, cabeçorras, marrotes onde podemos destacar: Moisés Senos, Célia Lima, Marcos Rosemberg, Tânia Arrabal, Carlos Eduardo, Silvia e Regina Delamare, Celso Cabeção, Nica Bonfim, Suzana, Lucia Costa, além do próprio Clarêncio.
A tradição da arte bonequeira e sua continuidade, hoje é representada pelo Clarêncio Rodrigues e pela Tania Arrabal, contemplados com o ponto de cultura Tribal Sobre Rodas da Animação que, com palco móvel apresenta e ensina a arte da animação paras as comunidades da Região dos Lagos.

Das Bandas

Tendo tido no passado um perfil cultural de extrema relevância em todas as cidades brasileiras, em Cabo Frio alcançou o auge, quando as bandas Liras e Jagunços, no inicio do século, dividiam a cidade em desfiles cívicos ou bailes carnavalescos. O encontro dessas duas principais bandas da cidade culminava sempre em conflitos sérios, um desses encontros que acabou dando em morte, fez com que um governador da época proibisse as bandas de desfilarem na cidade. Porém pouco a pouco, outros agrupamentos foram se formando, deixando Cabo Frio com um legado importante dessa formação musical. Apesar de Cabo Frio contar apenas com duas sociedades musicais a XV de Novembro e a Sociedade Musical Sta Helena, muitos músicos ainda mostram seus serviços em bailes e nos blocos do Costa Azul e o da Paróquia.
















2007

2007


Formação da Banda de Música

Com 60 (sessenta) músicos da Sociedade Musical Santa Helena e Quinze de Novembro


A Brincareta conta ainda com o

Cordão de Bois e Burrinhas

A brincadeira do Bumba com Pai Mateus e Catirina









E fica aqui minha sugestão para um novo boneco nesse panteão de personagens da cidade, a
querida Nininha 
Que a arte e a cultura popular vençam todas as barreiras e consigam sobreviver, alegrando a população, apesar das disputas de Liras e Jagunços!
 Fotos de Christianne Rothier, Carnavais de 2007 e 2013

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